segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Get up, stand up Don't Give up the Fight

Gosto de alguns rituais. Deixando de lado os obssessivos, que faço, evidentemente, entre os que tenho carinho
há um que se repete duas vezes ao ano: a faxina.Os astrólogos consideram nosso aniversário como um ano novo pessoal. Como se fosse o fechamento de um ciclo(kármico), época de fazer faxina, seja ela mental ou real, jogar fora papéis, sentimentos, desgarrar das correntes que arrastamos, enfim, limpar-se e abrir-se para o novo.

Esse mito da limpeza, da faxina, também se dá no ano novo. É evidente que nada muda de forma radical do dia 31 para o dia 1º.Os fogos de artifício e as taças de champagne, embora muito agradáveis, não fazem milagres.É fato que essa "varredura" deve ser cotidiana, são os lutos ocasionais que temos que fazer. Mas esses mitos das datas nos impulsionam a estabelecer tratos conosco. A criar metas, a desejar algo a ser realizado, a se fazer promessas. De certa maneira, o nosso coração se enche de esperança para o que está por vir. Talvez nem imaginemos o que vem. Às vezes criamos expectativas. Mas mesmo que imaginariamente projetemos um caldeirão de ilusões, é um momento de frio na barriga que pode ser prazeroso.

As minhas faxinas que, por conta da cultura, costumam se dar de 6 em 6 meses (já que nasci no meio do ano) são assim. Às vezes nostálgicas, tenho que confessar. Às vezes varridas com gosto, tamanha a quantidade de coisas que tenho que jogar fora. Mas sempre têm esse mistério. O novo (que às vezes pode ser o mesmo velho cotidiano) que está por vir.

A minha faxina já começou. Essa introspecção que toma conta é um pouco resultado disso.Nos fins dos anos é quando sento e tento escrever, transmitir com palavras toda essa confusão que se passa.É verdade que nada se arruma, nada se aquieta, essa é outra ilusão. Mas é importante essa ação de jogar papéis fora.Para mim, tem o poder de amenizar certas coisas e acentuar outras.2009 foi (ainda está sendo, na realidade) um ano de luta, de descrença, mas, ao mesmo tempo, de aprender a ter fé.
Uma profusão de acontecimentos, muitos deles com vontade de fugir, outras vezes com obrigação de lutar, por que a vida é luta.

Deparar-me com minhas imperfeições, com minha resistência, ainda que minimamente, foi angustiante e certas vezes, muito bom. Posso dizer que foi uma confusão, como é em todos os anos. Mas com uma dose, ínfima é verdade, de aprendizado. E o mais importante deles, que é proclamado por tantos poetas, e que hoje escolhi o de Bob: "Get up, stand up /Don't giv up the fight".

Ainda que na música ele levante bandeiras, o que não é o caso aqui, gosto da canção, principalmente do refrão e da frase a seguir. "Almighty God is a living man"

É isso... Pra 2010, que eu não desista de lutar.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Urgência

As dívidas se acumulam, mas algo em mim urge.

quero rir um riso franco
ainda que amarelo
e não branco
um riso sincero
que mostre que eu quero
uma vida mais leve
feito a pena da ave
assim, entregue
como um piloto na nave
livre a voar
sem sofrer, nem penar

quero um choro exagerado
ainda que mexicano
bem demonstrado
demasiadamente humano
um choro gritante
que mostre o suplício
de uma dor mais amena
uma libertação
dessa auto-pena

quero uma armadura
mais eficaz
porque essa arma dura
que porto, não me apraz
sintomaticamente mortifica
fantasiosamente edifica
fingindo uma paz

já disse o poeta
que a vida tem como meta
morrer
e se a paz é a morte
como manter-se forte
e viver?

se no fim das contas
o que se quer é o fim das contas
e é em nome da vida
se complicar
peço a todos os santos
ajuda
nesse eterno adiar

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Não pense que a cabeça agüenta se você parar

São muitas as dívidas: falar sobre a O homem da tarja preta, entrevista com Leonardo (biólogo – sobre as células), André Poubel (teatro), mas hoje me dedico a outro fato:

Não pense que a cabeça agüenta se você parar

Ontem fez uma semana que acordamos com a notícia de que Leila Lopes havia falecido. A princípio, para mim, era uma mera notícia da morte de alguém da mídia. Não acompanhei o sucesso de Leila Lopes nas novelas. Assisti “O Rei do gado”, mas não me lembro dela. Sua última participação na Globo foi em 1997, em Malhação. E a última novela que fez foi Marcas da Paixão, em 2000, na Rede Record. Em 1997 eu não acompanhava Malhação e também não assisti Marcas da Paixão.

Para ser sincera, só fui saber da existência de Leila Lopes quando ela, ao iniciar no cinema pornô, virou figurinha fácil em revistas e sites de celebridades, especificamente nos que sacaneiam as mesmas. E como não me despertou muita curiosidade, fiquei achando que ela era só mais uma prestadora de serviços da indústria do sexo.

Quando li a matéria sobre a morte de Leila, algo me chamou a atenção: suspeita de suicídio.Tenho uma curiosidade particular sobre os suicidas. Certas horas me arrebato de admiração por esse seres que têm coragem de abandonar a vida. Em outros momentos acho que são os maiores covardes da humanidade, aqueles que sequer suportaram os percalços e que não seguiram no processo de resistência. Talvez seja um maniqueísmo chinfrim da minha parte, quando na verdade o que importa não é coragem ou covardia nos seus sentidos puros, e sim cada ser humano e o que o levou a abandonar o barco, ou melhor, a cansar de resistir.

Li a suposta carta que Leila escreveu antes de morrer:

"Não chorem, não sofram, eu estou ABSOLUTAMENTE FELIZ! Era tudo o que eu queria: ter paz eterna com meu Deus e, se possível, com minha mãe. Eu não me suicidei, eu parti para junto de Deus. Fiquem cientes que não bebo e não uso drogas, eu decidi que já fiz tudo que podia fazer nessa vida. Tive uma vida linda, conheci o mundo, vivi em cidades maravilhosas, tive uma família digna e conceituada em Esteio, brilhei na minha carreira, ganhei muito dinheiro e ajudei muita gente com ele. Realmente não soube administrá-lo e fui ludibriada por pessoas de má fé várias vezes, mas sempre renasci como uma fênix que sou e sempre fiquei bem de novo. Aliás, eu nunca me importei com o ter. Bom, tem muito mais sobre a minha vida, isso é só para verem como não sou covarde não, fui uma guerreira, mas cansei. É preciso coragem para deixar esta vida. Saibam todos que tiverem conhecimento desse documento que não estou desistindo da vida, estou em busca de Deus. Não é por falta de dinheiro, pois com o que tenho posso morar aqui, em Floripa ou no Sul. Mas acontece que eu não quero mais morar em lugar nenhum. Eu não quero envelhecer e sofrer. Eu vi minha mãe sofrer até a morte e não quero isso para mim. Eu quero paz! Estou cansada, cansada de cabeça! Não agüento mais pensar, pagar contas, resolver problemas... Vocês dirão: Todos vivem! Mas eu decidi que posso parar com isso, ser feliz, porque sei que Deus me perdoará e me aceitará como uma filha bondosa e generosa que sempre fui. (...)” Leila Lopes.

Para ler na íntegra, clique aqui

“Vendo a vida passar
E essa vida é uma atriz
Que corta o bem na raiz
E faz do mal cicatriz
Vai ver até que essa vida é morte
E a morte é
A vida que se quer”
Refém da Solidão – de Paulo César Pinheiro e Baden Powell


Leila foi clara: queria a paz. A paz só existe na morte. A pulsão quer se satisfazer, quer morrer. Desde Freud, o pai da psicanálise, aos compositores populares Paulo César Pinehiro e Baden Powell isso fica claro. “Vai ver até que essa vida é morte /E a morte é /A vida que se quer”. A forma de resistirmos à vida é nos complicando, ou seja, adquirindo significantes. Leila era atriz e também foi apresentadora. O ator, esse que vive dos holofotes não só dos palcos e dos sets de filmagens, mas dos holofotes midiáticos, se agarram a que? Pelo pouco que sei de Leila, pude perceber que ela vivia de sua imagem. Uma mulher muito bonita, atraente e que fez sucesso por muitos anos. Junta-se a beleza que já lhe foi dada sem nenhum esforço, com a pompa do sucesso, a vivência do glamour e o que sobra? Viveu apenas da imagem e do sucesso. Só que os dois acabam. Ela foi transparente: “Eu não quero envelhecer e sofrer”.

Todos pensavam que ela tinha 40 anos, quando em sua morte, soube que ela tinha, na realidade, 50. Lidar com o corpo em degradação é complexo para todo mundo, mesmo para os que a vaidade não é tão intensa. Quando começamos a perder elasticidade, quando temos que diminuir nosso ritmo porque não agüentamos correr, ou quando nos abaixamos e sentimos dor, tudo isso mostra escancaradamente as nossas limitações. Para quem vive da imagem, o envelhecimento deve ser um sofrimento desmedido. O sucesso também é efêmero, ainda mais quando se produz o comum, o que está na mídia e é facilmente substituído. O que não é singular, raramente é perene. Mas isso não é uma crítica a Leila. Cada um sabe do seu caminho, do seu processo. Imagino que ela tenha sofrido demasiadamente. Tanto que não soube lidar com isso e quis a paz, porque estava “cansada da cabeça”. Daí entra o Raul: “Não pense que a cabeça agüenta se você parar”. E é justamente isso. Qual era o significante que aparentemente sustentava Leila? Seu corpo, sua imagem que levavam ao sucesso. Na chegada da idade e na falta de sucesso a que se agarrar? Em alguns casos, as pessoas se agarram à família. O que também não é nada saudável, cá pra nós.

Mas Leila era órfã. E também não tinha filhos. A cabeça agüenta se você para? Raulzito dizia que não. Aliado a isso, há um agravante. Leila que por um momento longo fez parte da “elite das celebridades”, vide seus 10 anos de Rede Globo, passou para o “submundo”. Passou a fazer cinema pornô. Talvez porque não quisesse ficar sem trabalhar, porque precisasse da grana, ou porque teve vontade mesmo de experimentar, ora! Que mal há nisso? Mas o moralismo que nos habita – sim, em algum momento ele aparece em cada um de nós – vai contra isso. E a própria classe a qual ela um dia fez parte - e provavelmente tinha amigos – serviu de superego da moça. O autor de novelas, Walcyr Carrasco escreveu uma dura crítica a Leila em seu blog, em 2008, quando filme pornô “Pecados e Tentações” foi lançado. Depois da morte, declarou-se arrependido. É assim mesmo, às vezes falamos o que não devemos, apontamos coisas sem precisarmos apontar, mas a vida é assim.

Fico imaginando o quanto o superego dessa mulher deve ter feito pressão pra ela se matar. Porque por mais corajosa que ela tenha sido em fazer o filme (digo corajosa no sentido de ir contra o que sua classe pensava sobre o seu ato), ela não deve ter suportado as críticas.

Vejam, aqui não levanto bandeira da indústria pornográfica, mas também não sou contra. Não acho que esse deva ser o único significante de ninguém, vide o que aconteceu com a Leila e NOVAMENTE como afirmou Raul: “Não pense que a cabeça agüenta se você parar”. Agora, essa moralização é uma neurose sem mais tamanho, e que novamente digo, habita todos nós. Está entranhado em mim e é necessário dar um chute. Talvez a mortificação do superego aliado ao medo de envelhecer tenham matado Leila.

Além das promessas que deverão ser cumpridas, falarei de Raulzito, vejam o link abaixo:

http://www.youtube.com/user/DanielCruz886#p/u

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Quiosque volante da Campanha Teatro para Todos, Largo do Machado, dia 25



**Desde o dia 20 de novembro, quem passa pela Cinelândia é despertado por um quiosque verde da Campanha Teatro para Todos, uma realização da Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro. Esta é a sétima edição da campanha que tem como objetivo despertar revitalizar, aproximar e renovar o público teatral, além de contribuir na formação de novas plateias. Este ano, mais de 100 mil ingressos estão disponibilizados para o público, totalizando 68 espetáculos, entre adultos e infantis. Os ingressos poderão ser adquiridos a preços populares: R$ 5,00; R$ 10,00; R$ 15,00, R$ 20,00 e R$ 25,00.

Além do quiosque fixo que ficará na Cinelândia todos os dias até 20 de dezembro(segunda a sexta-feira, das 9h às 19h; sábados, das 9h às 13h; fechado aos domingos), há um quiosque volante que de terça a sábado, das 10h às 18h fica parado em um bairro do Rio de Janeiro tornando a compra mais cômoda. Para ter acesso as datas e aos lugares onde estará o quiosque volante, basta acessar www.aptr.com.br/teatroparatodos .Ou se o espectador não quiser sair de casa para comprar seu bilhete, pode obtê-lo em www.ingresso.com. Os ingressos também estão à venda nos postos Petrobras credenciados, postos Shell, Lojas Americanas e Americanas Express.
Na última quarta-feira (25), o quiosque volante estava no Largo do Machado. Um papel colado na parte traseira do Doblô (carro que serve como quiosque) indicava que ingressos para oito peças que aconteceriam no fim de semana posterior já estavam esgotados. Entre elas o musical O Despertar da Primavera, o drama francês Na Solidão dos Campos de Algodão e o stand-up comedy Musicomédia. O sucesso do Largo do Machado não se repetiu no sábado (28), na Gávea. A procura foi baixa enquanto o quiosque esteve na Praça Santos Dumont.

O espectador deve ficar atento: os ingressos vendidos só valem para a semana da compra. Isso permite que as peças mais procuradas não tenham seus ingressos esgotados de uma só vez. Então quem não conseguiu comprar, por exemplo, sua entrada para O Despertar da Primavera na semana passada, pode tentar novamente esta semana.
Teatro, como é sabido, é o “primo pobre” das artes. Desde a falta de incentivo às produções que encarecem o valor do bilhete até a baixa procura por essa mesma razão ou por desinteresse mesmo, tudo vai contra a “popularização” do teatro. Não se pode afirmar categoricamente o que define a falta de hábito de se freqüentar o teatro, mas esta não é uma exclusividade brasileira, como se é de costume pensar.

Para saber mais sobre esse universo, o OEOO conversou com o ator André Poubel, que esteve em cartaz recentemente no espetáculo “Vale Coxinha”. A peça trata das dores e delícias de quem vive de teatro no Brasil. Um diretor com muitas idéias na cabeça, sonhando com a realização de seu espetáculo, está aguardando resposta de um patrocinador e, confiante de que receberá o financiamento, marca um teste para escolher o elenco Os escolhidos precisam entrar na loucura dele e mostrar que estão prontos para encarar o desafio de vencer qualquer dificuldade, mesmo que seja para ganhar um Vale Coxinha.
André Poubel foi, sem querer, despertado para o teatro quando era criança por seu avô, que era marceneiro. Enquanto fazia brinquedos de madeira para seus netos, encarregava André de ler uma história e depois contá-la aos primos utilizando os objetos que ele tinha feito em sua marcenaria. Não se sabe se foi de forma proposital ou não, mas ele estava ensinando André desde cedo uma técnica de preparação de teatro. Aos 14 anos, participou de uma peça na escola, mas teve a reprovação de seu pai militar. Antes de se formar na escola, o desejo de ser ator voltou. Tentou convencer o avô a ser seu cúmplice enquanto fazia teatro escondido, mas não teve sucesso. Pediu dinheiro ao pai para um curso de inglês e foi fazer teatro. Depois passou no vestibular para graduação em Artes Cênicas na UniRio, enquanto fazia Comunicação Social. Ficou nos dois cursos simultaneamente, sendo que o primeiro era escondido da família. Até que na metade do curso de Comunicação, resolveu trancar sua matrícula e seguir com o teatro.





André, que quando estava na faculdade se ofereceu para entrevistar Fernanda Montenegro e por três vezes emudeceu diante dela, falou sobre a dificuldade de se montar um espetáculo no Rio, sobre o mau funcionamento das leis de incentivo, entre elas a Rouanet, o alto custo dos espetáculos, a cultura do riso que – segundo ele – não é um problema carioca e sim mundial, da aprovação fácil dos espetáculos, dos aplausos iguais, de como os diretores, atores e produtores se propõem a fazer o que o público quer ver – talvez daí a banalização dos apalusos - , citou o livro de Sábato Magaldi “Depois do Espetáculo” e falou sobretudo da delícia de estar em cima de um palco contanto uma história, mesmo com os percalços para montar um espetáculo.

Em breve a entrevista com André Poubel.

**Trabalho de Fotografia em jornal - só estou utilizando o texto, as fotos são da rede.