sábado, 31 de dezembro de 2011

Em tempos de sustentabilidade, como fica Iemanjá?

Dicas para você cumprir exigências sociais e espirituais simultaneamente

Quem nunca ouviu falar em Iemanjá, rainha do mar? Até os não religiosos, ou os de religiões distintas, sabem que é tradição em alguns lugares do Brasil colocar oferendas para ela nos dias anteriores ao Ano Novo. Até aí tudo bem. A questão é que em tempos em que as palavras de ordem são sustentabilidade e preservação do meio ambiente, bate uma dúvida: como jogar barquinhso com velas, pentes, flores e perfumes para a musa marítima?

Pensando nos eco-chatos de plantão e em sua patrulha ideológica, o Onde Está o Óleo? resolveu mostrar que é educado e, embora não levante bandeirolas nem distribua ecobags natalinas, corrobora com a boa educação e higiene.

Para começar, ela, a famosa e tão falada ecobag pode servir para você transportar os presentinhos de Janaína. Quais presentinhos? Em uma séria reunião numa mesa de bar, ficou decidido: o barquinho você pode fazer de massa crocante (aquelas que servem para fazer canapés) levá-lo ao forno e... tchanram! ele já pode ficar firme para transportar as oferendas. Se achar trabalhoso (não esqueça o que receberá em troca), você pode pegar uma abóbora ou uma melancia e entalhá-la em formato de barco.

Quanto ao recheio da nossa embarcação, podemos fazer algumas substituições. No lugar do vidrinho de perfume que levaria tempo para se decompor, você pode colocar a essência em um algodão, por exemplo. É mais fácil de decompor e Iemanjá não deixará de ficar perfumada! O famoso pente oferecido à ela pode ser feito de legumes entalhados. Serve de comida para os peixes e ela não fciará sem as madeixas penteadas.

As flores, que não demoram tanto para se decompor, também podem ser substituídas, caso você não queira atrapalhar o banho de mar dos amiguinhos que estão em sua merecida folga no dia primeiro de janeiro: pode também fazê-las entalhadas em legumes.

E assim segue seu Ano Novo ecológico e in (ô palavrinha ridícula). Você cumpre as exigências sociais (ninguém vai dizer que você é antiecológico) e as espirituais. Quer mais? Aí só no ano que vem.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O cheiro do verão

“Árvores com o rosto arreiado de seus frutos ainda cheiravam a verão". Quando leu esses versos de Manoel de Barros pôde constatar aquilo que sempre mais lhe chamara a atenção no verão: o cheiro. Não sabia se era o entupimento de suas vias nasais durante as outras estações o causador de sua “miopia olfativa”, mas o fato é que tinha certeza que o verão possuía um odor avassalador. “Quando respiro, já sinto algo positivo. Uma onda, uma alegria, uma leveza’, falava aos amigos sentada na areia da praia.

“Ouço o cantar das cigarras, as cores ressaltadas, o brilho do sol sobre prédios, carros, areia, pedras e mar. Parece que uma energia carrancuda se dissipa com o chegar do verão. O poder do sol é realmente mágico. E há uma indecisão no tempo. Não. Talvez seja uma decisão. Aquele sol quente, tostando a pele, e de repente o tempo fecha. Chegam as nuvens, cai a chuva forte, como um choro de mulher magoada – visceral, ininterrupto. Os banhistas que douram seus corpos fogem apressados, resmungando seu dia de sol interrompido.

A chuva para. Como num soluçar, ficam os pingos remanescentes. E logo o tempo vai abrindo. As nuvens negras indo embora. Como se o vento soprasse nos ouvidos dela um consolo, um eu te amo. E assim o sol voltava tímido, numa cor branda. Como que se ela se confortasse com aquelas três palavras sopradas. E ganhando força a interpretação, o soluço já era pouco e espaçado – como a água que sobrava na areia molhada da praia. E ela, que se alegrava, tinha o sorriso metaforizado pela força arrebatadora que o sol ganhara. Imponente e sedutor crescia atrás dos Dois Irmãos formando uma paisagem que hipnotizava o vendedor de mate e os turistas encantados com suas máquinas fotográficas empunhadas. Enquanto isso os bon-vivants aplaudiam o espetáculo das pedras do Arpoador. Cazuza achava aquilo tudo cafona. Ela deitava na areia lembrando as palavras, contemplando o sol e aguardando que o vento soprasse de novo as palavras”.

Acabou de falar e seus amigos riram. Indagaram se estava apaixonada. Afirmou. “Estou encantada pelo verão”.