quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Não se vive sem trilha sonora

Faz um tempo. Não me lembro quanto. Só sei que foi num desses dias em que se chega sorridente e cantarolando - a canção eu poderia chutar que era do Chico ou de algum outro romântico, não sei precisar qual - e respondi ao interlocutor que me indagava o porquê da cantoria àquela hora do dia.

"Não se vive uma paixão sem trilha sonora", eu disse entre o refrão, abrir a porta do elevador e subir terminando os outros versos da canção. Foi uma dessas respostas categóricas que gosto de dar, sempre com um sorriso finalizando a frase. Quase como se tivesse terminado a fala com um "obrigada pela pergunta".

Ela me cabia naquele momento perfeitamente. Mas a verdade, acordei com mais certeza hoje, é que não se vive sem trilha sonora e ponto. Para o amor - e também ao desamor - há sempre uma música pro coração.

Tem as de angústia, as de esperança, as de alegria gratuita, as solenes, as dançantes e as que fazem chorar tamanha a força com que nos tocam. Há sempre a chance de encontrar uma canção que diga exatamente o que você está sentindo naquele exato momento.

Também existem aquelas que você sempre ouviu com determinado cantor e nunca deu a menor bola. Até que vem alguém, tipo Bethânia em Pra Rua Me Levar, e te faz mudar completamente de ideia sobre aquela canção.

Sempre que possível repito para alguém que "a formiga só trabalha porque não sabe cantar". Uma espécie de protesto ao meu desafino, baseada em Raul. Mas certa vez me responderam: "ouvir também é uma arte". Então sigo ouvindo.

domingo, 24 de agosto de 2014

É que Marte estava em Libra...

"Porque eu sou tímido e teve um negócio de você perguntar o meu signo, quando não havia signo nenhum. Escorpião, sagitário, não sei que lá. Ficou um papo de otário, um papo. Ia sendo bom...", cantava Gal lindamente no auge de sua juventude.

Papo de otário ou não, os astros são sim "Da Maior Importância", tal qual o nome da música, de pertinência sem igual. E é sobre eles que discorro agora. Houve um momento em que mercúrio retrógrado era o novo preto. E havia razão de ser. Só neste ano ele já retrocedeu duas vezes e - segurem as pontas aí que - tem mais um movimento desses em outubro.

O planeta, que rege a comunicação, saiu das páginas de Susan Miller para as de O Globo e toda a sorte de revistas que traziam previsões astrológicas para o tal 2014 (no ano passado ele também já bombava nas colunas dos jornais).

Mas o fato é que este ano um tal de Marte roubou a cena. Entre muitas conversas entre amigos e amigas, houve um consenso geral de que este ano acabou de começar. Há quem diga que ele só começou em agosto. Eu prefiro achar que foi no fim de julho, quando Marte deixou libra - depois de oito meses - e entrou em Escorpião. Ali começava o então aguardado 2014. Natural que as coisas só aconteçam em agosto, já que elas demoram a pegar no tranco.

Esse negócio de ser otário ainda vai nos levar além (tudo bem que Leminski disse que era de ser exatamente quem a gente é, mas pego minha licença, nada poética mais para otária, e escrevo assim).

Entrevistava uma cantora que me falava de seu disco novo e de como estava difícil dele sair, com vários perrengues no caminho. Não me contive e lancei. "Relaxa, é que Marte estava em libra...Ele já entrou em escorpião, vai ficar tudo bem". E dali o papo descambou para astrologia até que retornássemos ao assunto importante: música.

Para ela tudo fez sentido. Para mim era apenas uma repetição de um mantra de que ficaria tudo bem, eu sabia, Marte tinha deixado libra e não era possível que nada ainda tinha acontecido até ali. Iria acontecer.

E aconteceu. Ufa. Aconteceu. Marte provou para mim que tinha entrado em escorpião e que o ano enfim andaria. Dias depois, respirei fundo aliviada. Sorri. E depois achei graça. Lembrei que reencontrei uma amiga muito querida e conversa vai, conversa vem, eu disse que era cética. Eis que ela me interrompeu e perguntou: "Cética? Quem lê Susan Miller não é cética". Eu gargalhei.

É verdade. Gosto mesmo de acreditar nessas bobagens. Ou, como cantarolava Gal, ficar num papo de otário. Mas isso é da menor importância, da maior importância mesmo é que Marte mudou de posição e fez a vida funcionar. Viva Marte.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

De mar, de sol, de lua

Um casal de amigos gringos, recém-pousado no Rio, me pergunta se gosto de morar no meu prédio. Respondo orgulhosa que sim, ainda mais porque da janela da sala vê-se a Pedra da Gávea e temos uma posição privilegiada para o Cristo.

A mulher ri e pergunta se sou religiosa quase que num sarcasmo de quem sabe que a resposta é não. Ao mesmo tempo que digo que não sou - com um sorriso no rosto de quem confessa o contraditório - ela emenda que o carioca tem uma devoção por esta imagem tal qual um prêmio que exibe na estante. Não discordei. E foi a deixa para eu tecer praticamente uma declaração de amor pelo purgatório da beleza e do caos ali, naquela mesa de bar.

Foi dessa conversa que me lembrei quando hoje fui pega com a real e concreta possibilidade de deixar a cidade. É um desejo que existe há algum tempo, é verdade. Mas só quando ele está próximo de se realizar é que o frio na barriga invade todo o seu corpo e você passa a olhar para cada detalhe ao seu redor como se estivesse se despedindo.

Foram sete anos e meio de pura paixão, que antes de sê-la era um sonho. Primeiro um sonho longínquo de uma adolescente que queria ir ver o mundo e toda a sua liberdade. E o mundo estava ali, a 150 km de distância. Depois um sonho vivo, que se concretizou e que - cá para nós -, vivi intensamente.

Os banhos de mar, de sol e de lua. Porque não se passa um verão nesta safada sem um mergulho noturno no Arpoador. As ciclovias do Aterro, da orla e da Lagoa que cruzei sempre admirando a geografia mais bela do planeta (sim, porque nós cariocas, visto que já me tornei uma, temos essa mania de dizer que tudo nosso é mais; como dizem que a esfirra do Largo do Machado é a melhor da cidade e o pessoal do Humaitá certamente acha que a da Cobal é que é).

Cada boteco, cada noite interminável na querida São Salvador, cada ida à praia esticada em um samba na Pedra com pés cheios de areia e cabelos despenteados e duros de sal. Aquela eterna reclamação de que "isso é uma província, é um absurdo às 2h não ter mais bar aberto para a gente beber". Tudo isso marca o espírito dessa cidade, que no meu ponto de vista só deveria ser habitada por bon vivants, afinal de contas é muita beleza e talento para ser feliz concentrados num lugar só. "Absurdo mesmo é ver TV nesse(a) - prefiro usar no feminino - Rio de Janeiro", foi o que pensei deslumbrada quando aqui cheguei.

E por muitos anos não vi mesmo. O encantamento com as mil possibilidades só me fazia querer saber e descobrir cada canto desse lugar. O fato é que você pode ser bon vivant de qualquer maneira nesta cidade. Acordando cedo para fazer a Trilha da Urca ou indo dormir às 6 depois de uma noite irada em Santa Teresa. E isso aprendi bem com os cariocas. Viver como se não houvesse amanhã. Se para ser convidada para ir à casa de alguém é melhor ter amigos forasteiros na cidade, no quesito carpe diem o carioca não se acanha em ser seu "brother".

Os defeitos, ah, eles a gente aprende a aceitá-los, como fazemos com o que ou quem amamos. Mas tudo que é arrebatador não nos sai da memória. Quero um novo mundo de possibilidades, porém sem esquecer essa grande paixão. Rio, você é e sempre será a mulher que mais amei. Obrigada por tudo e até a próxima.