segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Na fila da lanchonete

Suspirava eu na fila da lanchonete da firma por algum motivo que já nem vem ao caso. Foi quando uma criatura que sequer vi na vida se intrometeu no meu suspiro e falou:
- Não fique triste não que daqui a quatro anos melhora.
No que retruquei:
- Ah, mas eu nem to triste por isso. Pelo contrário, to bem feliz.
- Então você também votou na Dilma, está entre eles.
- Infelizmente não. Tive que justificar, mas queria ter me juntado à massa funkeira.
Percebendo meu sotaque, ele disparou.
- O Rio de Janeiro votou nela.
- Sim, estou orgulhosa dos meus conterrâneos.
- Aqui a gente odeia ela.
Pensei em oferecer um cartão de um analista pra ele ir pensar no ódio dele. Ou em alfinetá-lo com o Alckmin e a falta d´água, mas apenas respondi.
- Nem tanto.
E fui embora com meu pão de queijo porque eu não sou obrigada.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Lívia tinha razão

Lá pelos idos do fim de maio, início de junho, eu estava um pouco mal-humorada com a chegada da Copa do Mundo ao país.

Além de não ser tão inteirada dos assuntos futebolísticos, nem de me empolgar com as seleções em campo, me chateava o fato de ter que trabalhar diretamente com isso.

Lamentei em voz alta e a amiga Lívia Torres, então colega de trabalho e amante do esporte, me alertou dizendo algo do tipo:

- Nas eleições será muito pior. A Copa pelo menos é divertida, a cidade fica animada.
Eu rebati que era legal, que as eleições eram o meu futebol, porque o debate sobre o país esquentava e você poderia contar com discussões interessantes.

Pois bem: durante a Copa, driblei meu mau humor; consegui ver de longe o clima de festa que o mundial instaurou no Rio, já que o cansaço com a labuta não me deixou aproveitar tanto.
Mas foi possível sentir o clima de comunhão entre as pessoas, engajadas pelas suas seleções ou - ainda mais - pela paquera intermundial que tomou conta da Praia de Copacabana.

Já nas eleições presidenciais, o debate mesmo - sobretudo no segundo turno - foi pro beleléu.
Para além de uma luta de classes, tivemos que lidar com uma profusão de notícias falsas replicadas no Facebook, guerras toscas com palavras de ordem como ForaPtralhas e ódio cada vez mais pululante, de ofensas virtuais à porrada com bandeiras hoje no Centro de SP.

Sabemos dos problemas do governo PT - embora eu ache que a linha de pensamento seja a melhor entre as duas oferecidas atualmente para o país e, por isso, #VotoDilma13.

Podemos, criticamente, cobrar uma postura mais à esquerda do partido caso ele vença o pleito.

Tenho - particularmente- um certo asco à figura do Aécio Neves - não só como homem político, mas como homem apenas - e me falta empatia com a proposta de governo excludente do PSDB.

Minhas convicções não são e nunca serão inabaláveis porque acho que temos de estar sempre atentos e de ouvidos abertos ao que mundo está dizendo/gritando.

Por isso tento ouvir o que cada um tem a dizer e, se for possível e a outra pessoa estiver disponível, argumentar.

Mas o que tenho visto aqui e no mundo real é pouca disponibilidade para ouvir, discursos prontos e "inabaláveis".

A minha única alegria nessa eleição foi ver que uma criatura inteligente e com propostas soube amarrar suas ideias e apresentá-las de maneira brilhante nos debates.

Tarcísio Motta surpreendeu - quebrou o tabu de muitas pessoas que não votavam no PSOL fossem quais fossem os seus preconceitos - e atingiu quase 10% de votação.

Fora isso, tudo muito pouco interessante. Repetições de papagaio, gritos sem propósito, palavras de ordem impensadas.

É, Lívia Torres, dou o braço a torcer e digo que você tinha razão.

Mesmo com aquele amargo 7x1 de junho e os alemães sapateando na nossa cara com aqueles baldes de cerveja no Leme, a Copa foi mais interessante.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Um mês de paulicéia

Hoje tem um mês que cheguei aqui, nessa paulicéia desvairada - aquela, de Mário de Andrade.

O que mais perguntam? O porque deu ter largado o Rio, a beleza natural e, sobretudo, a praia.

Olha, eu queria dizer que eu não abandonei o purgatório da beleza e do caos em vão.

Não, não foi desamor. Nem trabalho, nem grana, nem reclamação porque está tudo caro no Rio, tampouco porque os serviços estão péssimos.

Está tudo assim mesmo, é verdade. Mas nada disso seria motivo suficiente para largar o lifestyle carioca.

A bike e o skate na volta do trabalho fazem muita falta. Os vinte minutos de ida até lá de ônibus também.

Sim, agora eu levo 45 minutos para chegar no trampo, como os paulistas gostam de chamar a labuta.

Também não tenho mais a magrela, nem o skatinho.

O samba na pedra e a praia na quarta-feira também não.

O lance é o seguinte: vez em quando a gente precisa de uma mudança radical, uma troca efetiva de hábitos.

Em bom português, precisamos crescer.

E para mim, essa mudança de cenário foi necessária para que eu possa, num futuro - que eu espero sinceramente - breve, mudar esses hábitos e ficar orgulhosa de mim mesma.

É difícil, e eu posso garantir, sem vergonha alguma, que um mês depois, eu pouco mudei.

Os velhos hábitos permanecem, embora eu já esteja me esforçando para mudá-los.

Quero que seja uma escolha vitoriosa, e tento me lembrar disso todos os dias.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Rio é ex, SP é flerte

Aterrissando no Galeão já bateu aquele arroubo. Comparo a sensação com a seguinte: você termina um namoro que não estava bom por algum motivo e, três semanas depois, você reencontra a dita cuja ou o dito cujo e sente uma saudade absurda. Tudo o que você quer fazer é matar a saudade. O resto pouco importa. Todos os problemas você esquece naquele momento.

Foi mais ou menos assim que me senti quando cheguei ao Rio depois de três semanas em São Paulo. Pensando bem, eu entendi o porque.   São Paulo ainda não é um namoro. É um flerte. Estamos nos conhecendo, nos apresentando. E é normal pensar na/no ex enquanto ainda não se tenha apaixonado de novo. Vai ver é isso. Não matei toda a saudade que tinha, mas estou aqui, de volta ao flerte, ansiosa para que a paixão aconteça logo.