quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Carta ao pai

Carta ao pai

Pai, sei que a gente se abandonou.
E às vezes parece que este abandono é mais meu do que seu, considerando suas condições físicas de saúde.
Não é algo voluntário.
E sei que talvez neste momento, você deva me achar uma filha relapsa e mal agradecida.
Mas há aqui um bloqueio que não me deixa trazer a nossa relação como era. Você se tornou outro, eu me tornei outra.
E a realidade é que não sei lidar que eu tinha um pai e agora ele é outro.
Nosso afeto não mudou, mas se congelou. Não sabemos mais demonstrá-lo como antigamente.
Em algum lugar do meu inconsciente devo achar que vc me traiu e me abandonou, justificando assim o meu abandono.
Outro dia, pai, visitei um Centro Espírita. Sim, um como aquele que você me levava como era criança. E que na adolescência abandonei porque creditava a ele as suas perturbações mentais. Lembra que nas suas crises de euforia você sempre dizia que estava incorporando meu avô?

O psiquiatra disse que eram alucinações e que é algo muito comum em pacientes bipolares a imaginação de ver/ouvir/incorporar espíritos.

Acreditei sem questioná-lo. A tolice da sociedade nos faz crer sem pestanejar no que dizem os médicos. Hoje, com um pouco mais de desconfiança, já não sei se ele tinha razão. Leio muitas coisas que me fazem acreditar que ele estava equivocado ao decretar sua ciência como verdade universal.

Fui ao Centro porque estava sofrendo. Embora eu tome minhas decisões sem pedir opinião a ninguém, nem sempre acredito piamente nelas. Estava em um dia desses em que a angústia toma conta e você não tem certeza de nada. Nestes momentos de fragilidade, parece que nada bem ninguém pode nos dizer algo que sirva para que acalmemos.

Pois bem. Na palestra, a moça disse algo que me marcou. Que se estamos todos neste mesmo plano, é sinal de que temos as mesmas lições para aprender. Portanto, é tolice achar que um humano é mais evoluído que o outro. Se fôssemos, estaríamos em planos astrais superiores. E que por isso, deveríamos nos perdoar.

Perdão é uma palavra a qual nunca me agradou, porque vem carregada de cristianismo e opressão. O perdão reforça que existe o pecado. E o pecado é a maior forma de opressão que a sociedade vive. A idéia de pecado gera tanta intolerância que dói proferir essas duas palavrinhas tão atreladas.

Mas como bom estudioso do espiritismo, pai, você deve ter escutado uma palavra mais bonita e mais condizente com o que estou tentando dizer: compaixão.

Compaixão reflete este sentimento que devemos ter com o outro e com nós mesmos. E é o que eu gostaria de demonstrar ter por você. Mas a minha incapacidade de evoluir - neste sentido - fica muito clara quando tento resolver isto.

Me sinto inútil e incapaz por não conseguir resolver isto. Sabe. Hoje li uma coisa. Uma coisa que mexeu muito. E foi por isso que resolvi te escrever.

Li que uma criança de 6 anos estava prestes a perder seu cachorro de estimação - que já tinha o dobro de sua idade. O veterinário não pôde fazer nada pelo cão e teve de sacrificá-lo. Como você fez com a Veluda - nossa cachorra - e depois se sentiu tão mal, lembra?

Inconformado com o sofrimento daquela família ali velando o cão, o veterinário indagou porque estes animais vivem tão pouco. Ao passo que a criança - conformada com a situação - disse que os cães já nascem sabendo tudo aquilo que nós humanos viemos aqui na missão de aprender. Amam, têm compaixão, ajudam a quem amam.

E nós, na nossa imperfeição, ainda estamos engatinhando em tudo isso. Por mais piegas que possa parecer, a mensagem do cachorrinho me fez te escrever. Porque sei o quanto temos essa dificuldade. Já fiz inúmeras sessões de análise, com profissionais distintos, para me livrar da culpa cristã. Talvez neste movimento de melhorar, tenha me afastado ainda mais. Mas acredito que além de me livrar da culpa, precisava acertar estes pontos.

De certa forma, retornar ao Centro é retornar a você. Sabe, vi um casal com uma filha que regulava a minha idade. E imaginei que se todos os últimos acontecimentos - a sua doença, a separação da minha mãe, o retorno ao primeiro casamento - não tivessem sucedido, talvez poderíamos estar nós três ali, protagonizando aquela cena.

Mas não foi. Mudaram-se todos os propósitos, as missões, e desde então me sinto perdida, sem saber que parte do mundo habitar. E talvez seja este o meu carma, a minha missão. Sinto que o tempo está passando cada vez mais rápido e a cada dia se encurta a possibilidade de virar o jogo e acertarmos os ponteiros. Só gostaria de dizer que mesmo com as minhas dificuldades, minha compaixão não se foi por completo. E que mesmo ao dizer para mim todos os dias que nós dois temos responsabilidade por isso, sei que estou com condições mais adequadas de resolver isto do que você. Espero dar conta disso e resolver em breve.
Te amo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Minha maior alegria

Décimo dia de férias e a minha maior alegria é: não saber quem é Jéssica.
Será um novo meme? Um viral? Um vídeo no Youtube que bombou?
Sei lá.
Nem quero saber.
O bom das férias é ficar alheio a toda bobajada proferida por aí.
O silêncio é a melhor companhia para todas as horas.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Sol de maio

Um reflexão tardia pós fim de semana: não há nada mais agradável do que o sol de maio.
Não no Rio de Janeiro. O sol de maio ainda é quente, tem aquele amarelo-outono - mais bonito que todos os outros tons de amarelo.
E o melhor de tudo: vem acompanhado de um frescor, uma temperatura mais amena, que não frita os miolos, porém também não deixa de ser quente.
Taí uma coisa na vida com a qual eu não tinha feito justiça: valorizar o sol de maio.
Fica aqui o registro.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Código de conduta do beijo

Há um código de conduta do beijo durante um cumprimento. É apenas uma questão geográfica.
Assim que cheguei em São Paulo, meu segundo beijo ficava no ar- ou no vácuo mesmo.

Treinei todo dia dando um beijo na Moniquinha e no Rafa ao chegar em casa, pronto, funcionou, não pago mais mico com os paulistas.

Exceto quando eu volto do Rio - no primeiro e, no máximo, no segundo dia - porque a cabeça ainda está no modus operandi do cumprimento carioca.

No sul, por exemplo, o povo não economiza: dão logo três que é pra mostrar que não falta amor - disse Paula Bianca Bianchi - repórtera gaúcha querida.

Mas o fato é que o código de conduta do beijo é bem particular.
Vejam vocês: outro dia encontrei em São Paulo uma conhecida carioca na casa de outra amiga também carioca e pegamos o metrô juntas até parte do caminho de volta pra casa. Pois na hora de despedir, foi quase uma questão de honra. Rimos e brincamos que não poderíamos trair as raízes, não entre nós. E demos o segundo beijinho pra constar que sim, nos mudamos, mas a nossa cultura está preservada.

Achei que pudesse ser um tipo de cumplicidade estabelecida entre nós naquele momento por um sentimento de saudosismo ou de querer preservar as raízes mesmo.

Mas só me dei conta desse código de conduta quando nas duas vezes em que peguei carona com uma colega de trabalho também carioca, o mesmo se deu.

Estabelecemos naturalmente que sim, quando nos despedíssemos entre nós, seria com os dois beijinhos.

E assim descobri o código de conduta interestadual do beijo.

Mautner é carioca, mas deveria ser gaúcho. Ou sei lá, de outra cultura que desconheço.

https://m.youtube.com/watch?v=6x1Y-03LOyg

terça-feira, 24 de março de 2015

Novo conceito de saudade

Tenho aprendido um novo conceito de saudade.
Não é aquele tradicional que aparece quando a pessoa ao lado no metrô usa o perfume que te remete a alguém que você não vê e sente falta disso.
Nem aquele em que você sente uma vontade louca de ligar para alguém, ouvir a voz e falar de volta.
Tampouco aquele em que você sente a falta física, o contato diário com alguém.
Já vivi todos esses e sei bem como são.
Meu novo sentimento de saudade aconteceu assim.
Depois de seis meses vivendo em outra cidade, percebo que sinto saudade do lugar - da cidade - daquele espaço físico - daquele jeito de andar de chinelo -
de pegar o metrô e saber de olhos fechados aonde ele vai dar.
De ainda ter os nomes das ruas decorados, de saber que a chuva caiu - alagou tudo - espera um pouco aqui e daqui a pouco fica tudo bem.
Saber uma cidade é algo muito louco.
E sentir saudade dela - de uma maneira ainda maior quando se está nela - é algo inédito.
Rio foi a terceira cidade onde morei.
Mas para mim é estranho que só ela me cause esse sentimento.
Visito São Pedro e Araruama porque tenho família lá.
São cidades litorâneas.
São Pedro tem as características exacerbadas de uma cidade do interior brasileiro. O coreto na praça, a Igreja Matriz, o canhão (da lenda que diz que quem senta nele, nunca
mais sai da cidade; lenda essa que pude derrubar).
Araruama tem a maior laguna - que sempre chamamos de lagoa equivocadamente - hipersalina do mundo.
O cheiro de maresia, o sal que fica na pele, tá tudo ali na entrada da cidade.
É só sair do Centro e em 15 minutos você está no mar de Praia Seca.
Visitar as cidades de São Pedro e Araruama não é ruim.
Mas nunca senti delas a saudade que sinto do Rio.
Isso deixando de lado as relações pessoais.
Falo apenas da cidade.
Essa saudade estranha nunca tinha sentido.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Caro Cuenca

Escrevi esse texto logo após o J. P. Cuenca publicar esse aqui na Folha: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopaulocuenca/2015/02/1585060-adeus-rio-de-janeiro.shtml
 
Não tinha publicado ainda. Mas ontem o encontrei numa festa na República - o que por si só já contradiz o meu texto -. Quase nunca tenho razão sobre nada. 
 
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Soube através de seu texto na Folha de S. Paulo que você está vindo para a terra - outrora - da garoa. Seja bem-vindo. Ao ler suas linhas, pensei: o que devo contar para ele? Não vai dar para ser pessoalmente, como daquelas três vezes em que a gente se esbarrou no Rio. Em uma delas inclusive - você não deve se lembrar - nós fomos apresentados por uma amiga em comum, que te conhecia eu não sei de onde. Foi ali no Jóquei, tava rolando um show.

Eu diria que é quase impossível a gente se encontrar por acaso por aqui. E isso, meu caro, é do que tenho mais saudade. Você deve saber do que estou falando. Daquela ida despretensiosa à Praça São Salvador que te faz voltar pra casa não sem antes ter cruzado com pelo menos uns cinco conhecidos e trocado uma ideia - na maioria das vezes superficial, você também sabe - com todos eles . Por aqui isso será bem difícil. Mas nada que você não sobreviva.

O que eu tenho de mais importante para te dizer sobre São Paulo é: talvez aqui você conheça gente de toda parte, o que é excelente. Ser forasteiro em qualquer cidade - como eu fui no Rio - te põe em contato com outros forasteiros, como aqui encontrei os do interior paulista e os paranaenses, e te faz criar laços com eles. Descobri que não é uma exclusividade do carioca. O paulistano dificilmente te chamará para casa dele e o incluirá em sua rotina. Repito: assim como no Rio, também quem nasce por aqui já tem sua vida, os amigos do colégio, do bairro e provavelmente só vão tomar um chopp com a galera da firma e c'est fini.
O excesso de educação do paulistano me incomoda, os caras são cheios de dedo até para xingar. Repare você no não raro 'Orra' que as criaturas falam em vez do nosso porra. Encontrar um carioca em São Paulo, para mim significa poder falar muito palavrão. Em contrapartida, há algo incrível: ninguém concorda com você para te agradar. Se discordam, expõem seu ponto, argumentam, e ninguém deixa de ser amigo por conta disso. A discussão fica mais ampla. Muitos vão te questionar o porque de você ter deixado aquela cidade linda em que a qualidade de vida é tão melhor com a presença do mar, mas o preconceito com o carioca é velado apenas por três encontros. Aquela máxima de que é apenas um lugar pra passar férias, onde não se trabalha, onde só se vive na praia e etc. Enche um pouco o saco tanto quanto os deslumbrados acham que aqui ó se vive em exposições, teatro e restaurantes bacanas. Via de mão dupla.
Não sei se você viverá em um ambiente 'firma', provavelmente não, então você se livrará dos chatos que ainda fazem piadas com sotaques. Eu tive que aprender a zoar o "meu" depois de passar 4 meses sublimando minha vontade de mandar eles irem à merda. Descobri que a melhor forma é sacanear de volta quando zoam o meus axfalto ou qualquer palavra com o nosso característico chiado. Isso pode parecer coisa de séculos passados, mas a globalização não fez ninguém deixar de ter 10 anos de idade quando o assunto é sotaque.
Aproveite o Centrão e toda a sua beleza e as oportunidades de comer comida de todo tipo. Os serviços não são essa oitava maravilha e vez em quando você pode se irritar com um taxista também. Gente é gente em todo lugar e sacanagem/ malandragem não é exclusividade do nosso estado. Mas você verá muita gentileza, como o motorista que outro dia me pegou com compras no supermercado, aguardou que eu fosse até a garagem do prédio, buscasse o carrinho, pusesse as compras e fosse embora. Isso sem nenhuma bufada, nem sinal de mau humor.

São Paulo é incrível, sim. Há muito o que se descobrir por aqui. Tem música boa toda semana, teatro, cinemas incontáveis e o que para nós cariocas é fundamental: inicia-se um período de explorar o lado de fora, as praças, as festas ao ar livre, e em breve, no carnaval de rua, que há poucos anos vem crescendo timidamente e esse ano promete bombar. Algo incrível nessa cidade com arquitetura bacana, mas feita, de um modo geral, para ficar do lado de dentro. No mais, o grande lance é não se deixar levar pelo ritmo de tensão/preocupação/ansiedade que a cidade pode tentar te imprimir. Vivendo e trabalhando em horários alternativos, é possível ser bem feliz. Seja bem-vindo.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Sobre o poder do humor

O humor pode levantar ou devastar um ser humano num intervalo ínfimo de tempo. Mas eu me questiono: o que faz alguém ficar muito lá no alto ou lááá embaixo, na corda bamba entre euforia e depressão?

Há seis meses meu pai saía da UTI após passar um mês lá. Uma superdosagem de haldol fez com que ele não conseguisse sequer abrir a boca para beber água e, por isso, teve de ser internado. Na enfermaria do hospital não teve os cuidados necessários e depois de dois dias em casa regressou à UTI.

De volta para casa, ficou em uma cama hospitalar, comendo comidas líquidas, de canudinho, porque não conseguia mastigar. Perdeu dois dentes enquanto estava na UTI. Os movimentos das pernas também se foram, o que fez com que precisasse da cadeira de rodas por um período. Usou fraldas geriátricas, sofreu diariamente sendo submetido a  curativos em escaras enormes que se formaram em seu corpo enquanto estava no hospital. Eu e meu irmão parecíamos duas crianças indefesas caindo no choro quando nos deparamos com aquela situação. Mas algo ali era bizarro: meu pai sapateava na nossa cara com o seu bom humor. Tudo virava piada. Ele fazia qualquer visita sair de sua casa rindo com as bobagens que falava.

O tempo passou, com a fisioterapia ele conseguiu se locomover com a ajuda de um andador, até que agora é capaz de caminhar por um trajeto razoável sem precisar se escorar em nada. Colocou novos dentes, pode comer um peixe na beira da praia ouvindo músicas que o agradam - seu programa favorito desde que me entendo por gente - as escaras estão 90% cicatrizadas, já dorme em sua cama, aposentou a cadeira de rodas, mas não abre a boca para nada. Só consegue dizer "estou morrendo".

Peraí. Que porra é essa? Até outro dia você não andava, não comia, sua vida estava uma merda e você sorria. Aos 69 anos você teve força para se recuperar, consegue de volta suas funções primordiais e diz que está morto? Como isso é possível?

Minha madrasta afirma que ele está assim desde janeiro quando soube da morte da prima que não se curou de um câncer. E me lembro de um luto - já vivi e sei o quanto a morte física do outro pode nos ocasionar uma morte temporária em vida. Não há remédio - para mim não teve - que cure naquele instante a dor profunda e a vontade de não fazer nada - só desejar o fim. Não existiu para mim nenhuma pílula que dissipasse aquela dor. E é justamente a ausência de um pó mágico para desfazer as perdas - as dores profundas, o emplastro Brás Cubas de Machado - que me sinto nua, completamente impotente, sem capacidade de ajudar ou modificar essa situação.

Cada um de nós precisa de um tempo necessário que é só nosso para viver - digerir, sentir, refletir - o que for. É descompassado, não segue o ritmo de ninguém. Não é uma banda, é um solo. É um lamento de um cavaquinho, que é bonito, mas não tem o violão de sete cordas para transformar o bonito em belo. É triste, difícil de aceitar, mas necessário.

Talvez eu nunca entenda como lidamos com o humor. Em menor e maior escala. No que se é dito patológico e o que no que se diz cotidiano. Mas que ele é uma força poderosa, para o bem e para o mal, isso eu não posso negar.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

1ª grande provação

Nesta primeira grande provação em SP chamada carnaval com trabalho (leia-se sem blocos e sem Avenida - mesmo que cobrindo), acompanho a folia de longe; porém em tempo real e quase integral.

Tudo bem, não faz mal, faz parte das escolhas. Apenas penso que nenhum enredo até agora superou aquele da Vila Isabel em 2013 (no meu coração).

Vila, chão da poesia, celeiro de bamba.

http://musica.com.br/artistas/unidos-de-vila-isabel/m/samba-enredo-2013-a-vila-canta-o-brasil-celeiro-do-mundo/letra.html

Saudade, Martinho. Saudade, Sabrina. Saudade, Sapucaí.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Brincadeiras à parte

Brincadeiras à parte com as divergências linguísticas entre Rio e SP - no penúltimo post - tenho que fazer uma anotação simbólica: achei que num lugar cheio como o metrô nunca pudesse fidelizar uma relação. Ledo engano. Hoje a moça que sempre me vende pão de queijo e gatorade na estação Paulista me perguntou: "vai querer a sua cota diária?". Hahaha Achei ótimo.

De volta ao eixo

Mercúrio está de volta ao eixo. Pena que é só mercúrio. Brinks. Que nesse tempo breve até maio - quando ele e os que pedem o impeachment voltam a ficar retrógrados - consigamos ter sanidade no que diz respeito à comunicação. Menos ruído.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Aprendendo paulistês: lista in progress de vocábulos


Paulistanos são criaturas educadas até na hora de xingar. Notem vocês que o nosso o usual porra - que em carioquêix pode ser uma interjeição antes de uma frase, ter a função de vírgula, ou a finalização de uma oração (ou cumprir todas essas funções numa mesma oração, já que usamos tranqüilamente quatro porras em uma frase de 10 palavras) - para os nascidos na terra outrora da garoa a nobre palavra é amenizada para um Orra. Escrevo assim com O maiúsculo para que não fique pedra sobre pedra. Que o leitor não ache que esqueci do pobre p. Não. É assim mesmo.

Vejam vocês. As questões linguísticas não se encerram aí. O nosso 'obrigada você' ou 'eu que agradeço' aqui se torna 'obrigado eu'. Até aí os vocábulos têm muita polidez.

Mas a coisa se complica quando o sujeito diz que 'de sexta' não se manda e-mail de relatório.

A nossa boa e velha marola - aquele cheiro que brota no posto 9 quando o colega do lado acende um baseado - aqui é marofa. Tenho a impressão de que algum paulistano foi no nove, fumou um, entendeu a palavra errada e trouxe a gíria um pouco modificada.

Não vou entrar no mérito de biscoito ou bolacha. Foi uma promessa que fiz antes de me mudar. Acontecesse o que acontecesse, eu não iria entrar nessa discussão. Afinal, no pacote vem escrito biscoito e bolacha é aquilo que se dá na cara de alguém quando se quer ser polido. Porque claro, quando estamos falando de carioquices, você diz que alguém deu uma porrada em outro alguém. Porque somos assim: fofos.

Fulano comeu bola no nosso dicionário é fulano deu mole, mandou mal, deixou passar a informação. "Pô, cara, foi mal, dei mole", seria o carioca. "Meu, presta atenção, cê tá comendo bola aí", seria o paulistano.

Aqui ouvir que a "repórter é boa" é só um elogio profissional. Diferente do Rio que temos a "repórter boa" e a "boa repórter", visto que qualquer ambiente de trabalho se torna uma borracharia quando há mais de dois homens héteros presentes.

Esta lista é in progress e será atualizada conformes novos vocábulos aparecerem.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Orange is the new black

Ao matar a saudade de Orange is The New Black reforço a única certeza que tive até hoje na vida: Alex Vause vira a cabeça de qualquer - repito q u a l q u e r - mulher.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Brainstorm ou toró de parpite

Toró de parpite com meu consultor de assuntos gerais Roger Modkovski:
"A vida é um pêndulo oscilando entre as reclamações da chuva e da falta de chuva" (Arthur Schovenhauer)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Parafraseando...

Parafraseando Modkovski que por sua vez parafraseia Schopenhauer: "a vida é um pêndulo entre mercúrio retrógrado e mercúrio no eixo".

sábado, 31 de janeiro de 2015

A bunda de Paolla

O balanço da Petrobras omitindo o rombo causado pela corrupção se tornou um assunto pequeno diante da grandiosidade da bunda de Paolla Oliveira, digo, da importância dada ao tema. O derriére da moça chegou ao Trending Topics do Twitter na noite de segunda-feira - quando então foi ao ar a cena da atriz com um fio-dental na minissérie Felizes para Sempre - e de lá não saiu até o início da noite de quinta.

Bunda é bunda desde que o mundo é mundo, no entanto não podemos ignorar o frisson que ela ainda causa nessa espécie que se diz tão desenvolvida, mas não deixa de mostrar seu lado animalesco quando se trata de um derriére alheio (ou em tantas outras ocasiões).

Tento entender porque uma bunda ainda é motivo de tanto alvoroço, ainda que seja uma bela bunda, e isso, neste caso, não podemos negar. Sendo a bunda um ser sem vida própria, não fala, não anda, não é chata, nem legal, embora possa ser achatada, sendo ela apenas um recorte do corpo, porque será que provoca tanto falatório e tanto tesão por aí?

E digo bunda, meus caros, porque algo que já foi institucionalizado paixão nacional (vide este site) não deveria ter o direito de ser diminuído e substituído pelo eufemismo bumbum. Uma grande paixão de uma nação não pode ser assim rebaixada. A menos que essa nação seja careta e moralista e até a sua grande paixão tenha sua alcunha reduzida a um termo menos ofensivo. Mas não é esse o nosso caso, certo? Gostaria que não fosse.

Não posso afirmar que haja essa relação, mas me parece que todo esse tititi causado em torno de um traseiro tem muito a ver com toda essa ode à moral e aos bons costumes que ainda paira pela cabeça de nossos compatriotas. Há tanto que se preservar a moralidade - e isso não sei porque cargas d'água - que quando uma bunda vira assunto, ela tem que se tornar O assunto. Passa-se tanto tempo preocupado em se adequar ao que é moral que quando a cultura machista permite se manifestar em relação aos prazeres da carne - no caso de uma bunda em rede nacional - o assunto perdura durante quatro dias numa rede social.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Eu também vou reclamar

"Mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução".  Assim como no poema de Drummond, nada é tão fácil de ser solucionado. Digo isto porque em meio a crise hídrica - que já avançou da esfera paulista para âmbito nacional - e o já anunciado caos no fornecimento de eletricidade, o que mais ouvimos é reclamação. Todos querem solução.

O Alckmin já figura uma marchinha de carnaval - cá entre nós - muito bem bolada. E a Dilma - não a bolada - já é culpada de tudo antes mesmo de ser reeleita. E aqui não faço defesa, nem de um, nem de outra. O fato é que já estamos no pandemônio da reclamação. A água e a luz, que figuravam a marchinha dos anos 50 já estão faltando por aí, é verdade.Mas, cá entre, nós, já sabíamos da escassez dos reservatórios há algum tempo. Talvez pouco mais de um ano. E também não vimos chuva cair. é uma equação simples, não é necessário ser um gênio da física ou da matemática. Se não chove, logo não temos água.

E é aí que entra o sentimento de que "alguém tinha que fazer por mim". Todo mundo sabia do risco de ficarmos sem água, alguns foram visionários e criaram recursos de captação de água para reuso. Outros preferem dizer que o governo é que é criminoso. Ele não deixa dizer, nem fica isento da responsabilidade que lhe cabia de racionar os recursos hídrico e elétrico, nem de massificar a propaganda sobre a necessidade de economizá-los. Também demos azar desses recursos calharem de estarem próximos da escassez justo em período eleitoral - tanto na esfera estadual, quanto federal. Sabemos de tudo isso.

Mas também sabemos que confiar a nossa sorte - sim, porque como viveremos sem água? - a políticos em época de eleição não é criminoso, mas leviano. Não podemos creditar toda a nossa má sorte aos maus gestores. Diariamente recebemos conteúdo de toda a parte dos estados do Rio e de SP com pessoas denunciando vazamentos, denunciando seus vizinhos por lavarem calçadas, por gastarem um recurso escasso lavando o carro. Mas há um ano ninguém fazia isso? Ninguém desperdiçava água ou será que nós é que fazíamos vista grossa à espera de que o governo cuidasse de nós, de nossa água e quem quisesse desperdiçar tudo bem?

É muito fácil não nos responsabilizarmos por uma questão que nos diz respeito e muito. Não podemos agora dizer que não sabíamos e que só o governo é que tem culpa. Nós também somos responsáveis não só pelo desleixo com o mundo - que está sem água não por uma vontade divina, mas porque nós o maltratamos muito nos últimos anos - mas com a escassez de um recurso que vimos ser desperdiçado debaixo dos nossos olhos o tempo todos e o negligenciamos achando que alguém ia cuidar dele por nós.

E fim de papo!

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Das conexões-coincidências que nos atravessam o caminho

Dentre os muitos spans, propagandas e informações inúteis, chega um e-mail de alguém (sim, ainda uso esta ferramenta já obsoleta para as minhas primas, seis e nove anos mais novas do que eu). É a Chris. Pergunta se eu saí do Facebook, diz que tô sumida, assim trocamos as novidades, conto da vida aqui em SP, ela conta do intercâmbio que acabou de fazer em Buenos Aires a fim de se orientar para o mestrado. Ela está escrevendo a biografia de Zé Ramalho. Fez muitas entrevistas e agora vai começar a escrita. Anseio pelo resultado.

O fato é que Chris, porta-voz dos músicos e que tão bem divulga a história do cancioneiro brasileiro país afora, me escreve justo no dia em que vi o documentário "Cássia", de Paulo Henrique Fontenelle.

O filme provoca um turbilhão de emoções, assim como foi a vida da cantora. É possível ir da gargalhada ao choro copioso durante as duas horas no cinema. Sempre antenada com as novidades do mundo das canções, ela já tinha assistido ao filme no Festival do Rio e escrito suas impressões no Garota FM.

Com uma narrativa muito bem costurada, a película nos põe em contato com uma criatura singular, original e unicamente comprometida em viver uma vida de acordo com o queria. Sem encanações, grandes preocupações ou ambições megalômanas. O barato dela era cantar. No palco, Cássia fazia sua catarse: colocava para fora tudo aquilo que na vida cotidiana não fazia. E com a força de um vulcão. Impossível não se emocionar com sua história. Daquelas vidas inspiradoras, uma narrativa pra causar impacto e nos fazer refletir o que cargas d´água estamos fazendo com o nosso tempo, nossa vida e o quanto estamos nos engajando com o que de fato queremos. Vale a pena conferir.
E sendo este um fato consumado - e já devidamente documentado - não quero mais, de mais a mais, me aprofundar nessa história. Já dizia Djavan. Então eu mudo de pau pra cavaco - sabedoria da vovó reinando - ou de pau para pau mesmo e deixo aqui um troféu joinha seguido de uma salva de palmas para o criador do pau de ventilador, uma evolução com utilidade do (famigerado e nem tão útil assim) pau de selfie.

*Compartilhando Mr. Modkovski

Entreouvido na bancada:
- Redação é o único lugar em que você pode se meter na conversa dos outros e isso não é falta de educação. Foi praticamente por isso que eu fiz jornalismo.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Verão paulistano {parte 1}

Sábado, 18h30, estou prestes a sair do Conjunto Nacional, quando uma cena me chama a atenção. Um duelo inusitado. De um lado, Roberto, que chuto ter uns 75 anos. Do outro, Igor, que tem no máximo 7. Se fosse uma fotografia, o contraste entre os cabelos brancos, na altura dos ombros, e os fios lisos, negros e curtos, daria um belo clique.

Entre o hiato geracional representado pelo velho e o pequeno moço está o motivo do encontro: uma mesa de xadrez.

Faço de conta que entendo do assunto e trato logo de perguntar se a prática é comum. Ao que um organizador me diz que sim, todos os sábados das 14h às 22h, há duelos de xadrez entre todos os tipos de pessoas.

Ele me pergunta se jogo e me diz que todo sábado, às 14h pontualmente, uma menina vai lá jogar. "Vem aqui, joga com ela, você terá companhia com certeza". Agradeci.

Não sei jogar xadrez. Nunca tentei. Mal e mal, jogo dama. Já me intrometi em um grupo de pessoas na Praia de Ipanema que me ensinaram a jogar gamão. Mas xadrez, nunca.

Ali no Conjunto Nacional, outro clássico do verão paulistano: pessoas esparramadas em pufes e no carpete da Livraria Cultura lendo seus livros. Um cachorro maroto estava lá deitado, se refrescando no ar condicionado, enquanto sua dona lia "O Lobo de Wall Street" e um pequeno de dois anos corria e perturbava sua tranquilidade. Fiquei com inveja dele. Queria me esparramar também.

Lá do lado de fora um "Geladinho Detox". Ao lado do Center 3, duas meninas vendiam os clássicos sacolés, mas na versão saúde. Nada de coco ou frutas calóricas. Experimentei um de chá de hibisco. Bom.

Descendo um pouco mais a Augusta, no parque que leva o nome da rua, uma piscina de plástico, umas cadeiras, um rapaz com um maiô azul com lantejoulas, um chapéu e um grito: come on, vem pro Parque Augusta. A fome era maior do que a curiosidade de entrar, então segui. Depois soube que ocuparam um espaço para discutir a legalização das drogas.

No fim, garanti meu ingresso para a pré-estréia de Cássia. A ver.

Acabou o milho, acabou a pipoca (mas ainda tenho que esperar por Cássia)

Acabou o milho, acabou a pipoca. A frase clássica do pós-férias. Back to reality, é assim que tem que ser. Ao menos por enquanto.

Enquanto não tomo coragem para seguir os desprendidos que conheci nos hostels - nessa e em outras viagens - que largaram tudo para viajar por um tempo e pôr a cabeça no lugar. Vou tentar fazer o contrário, colocar a cabeça no lugar antes de partir mundo afora.


A volta ao mundo real dá aquela leve tristeza de encarar a rotina novamente. Tantas histórias deixadas para trás. Mas enquanto a mega não é minha, ou melhor, enquanto não crio
uma estratégia plausível para viver viajando - ou parada num lugar recebendo viajantes -, é o que tem pra hoje.

Mas, a realidade está aqui e não dá para fugir dela. Vamos aproveitar o que tem de melhor nos intervalos. Estou na torcida para que Relatos Selvagens leve o Oscar de Melhor Filme
em língua estrangeira. Mas muito mais que isso, ansiosa para ver o doc de Paulo Henrique Fontenelle sobre Cássia Eller. 


Qualquer coisa que eu pudesse falar sobre ela, admiração, o quanto ao chegar no Rio, visitar Laranjeiras e estar diante daquele bairro cantado e vivido por ela mexeu comigo no meu primeiro encontro com a cidade, fica pequeno ao ler esse texto  escrito pelo Dodô (http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/blog/dodo-azevedo/post/outra.html). Cássia, sinceridade, invisibilidade. Tudo bem amarrado no texto.

Passado isto, há um verão paulistano inteiro lá fora para ser descoberto. Bora lá.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Sob a ótica do desassossego

Lua em câncer, me diz o horóscopo acrescentando que não devo valorizar nada do que penso/sinto pois tudo está sob a ótica do desassossego.

Ah, se ele soubesse que essa lua coincidiu com a TPM. Seria o oráculo perfeito.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O dia em que conheci Maria e rodei 610 km pela costa uruguaia

Maria se hospedou no hostel porque ao fazer a busca na web encontrou os preços de hotel caríssimos. Algo normal na alta temporada. Aos 62, cansou da superficialidade dos habitantes de Mônaco, onde vive há sete anos. Tem dois filhos, um "socialista que quer ajudar a gente que necessita" e que vive em Buenos Aires (país onde Maria nasceu, na província de San Rafael). A filha, mais nova que o rapaz, mora em Dublin, se formou em letras, porém quer ser artista. Ao contrário do irmão, só lhe são interessantes as coisas que custam muito dinheiro. O casal nasceu em Israel.

Minha companheira de dormitório  me contou que depois de criar os filhos, se casar duas vezes - com um hiato de dez anos entre os dois matrimônios - aos 58 encontrou novamente alguém com que queria estar junto de fato. E que, agora, com os filhos criados e um companheiro que não lhe faz tanta companhia assim - já que a ele não interessa mais o tango, ir a festas e aproveitar o social - decidiu mudar toda sua vida. Quer abandonar a superficialidade de Mônaco. Estava em Punta del Leste à procura de uma casa confortável para comprar, se estabelecer, fazer uma horta, plantar suas verduras e dar festas quando possível. Se arrepende de ter abandonado seu trabalho, mas quer seguir adiante se respeitando e fazendo o que mais aprecia.

Digo a Maria que gostaria muito de conhecer a costa uruguaia e que um taxista havia me oferecido me levar por não tão módicos 550 dólares. (Antes de falar com ela, havia sondado uma trupe bacana do hostel para ver se conseguia companhia, mas todos já tinham passado pela costa e iriam terminar a viagem em breve seguindo para Montevidéu)

Eu sabia que Maria estava visitando casas e que era bem provável que não toparia ir até a costa. Me surpreendi quando ela sugeriu que alugássemos então um carro e que ela nos conduziria até Punta del Diablo. No dia seguinte, cumprimos o combinado. Quando passamos por La Barra, ainda em Punta, vimos uma cevicheria e ali decidimos que voltaríamos. Entramos em José Ignacio, fomos a Cabo Polônio (Maria subiu no pau de arara, sacolejou nas areias até no nosso destino e não reclamou nenhuma vez), visitamos Puntal del Diablo e, para minha surpresa ainda maior, sugeriu que fôssemos até o Chuy. Cruzamos a fronteira - momento em que eu parecia uma criança de cinco anos tamanha a alegria em passar pela placa da divisa entre Brasil e Uruguai - passeamos na Avenida Brasil de Chuy, vimos um lindo por do sol e voltamos. A volta teve a emoção de quase dois acidentes (curvas perigosas e motoristas irresponsáveis na estrada), música regional gaúcha e uma pergunta: Isabela, porque os brasileiros adoram colocar saudade nas canções? Questão essa que rendeu uma reflexão sobre saudosismo, sofrimento, América Latina. Quando as estações de rádios que tocavam músicas dos dois países (aliás, como deve ser louco morar na fronteira, ter uma mistura de lógicas, moedas, enfim) pararam de funcionar, Maria começou a cantar O que será?, de Chico e assim seguimos.

Após o nosso ceviche - delicioso - avistamos a polícia. Ela comentou que havia muitos por ali naquele dia e eu brinquei que deveria ser para pegar os borrachos ao volante ou para arrumar um qualquer (com a minha cabeça de brasileira). Maria me disse que os uruguaios são muito honestos e que a corrupção não está por toda a parte como em nosso país. Um taxista já havia me dito a mesma coisa e então concordei com ela.

Em um só dia Maria me surpreendeu muito. Da vida de madame em Mônaco a uma viajante sem frescuras, com muito pique pra estrada e muita sabedoria a transmitir a uma jovem mochileira.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Na poltrona ao lado

Na poltrona ao lado, uma senhora no auge de seus charmosos cabelos brancos e num elegante cruzar de pernas saca da bolsa ninguém menos que Jack Kerouac. Enquanto ela lê, meu sono não me deixa sequer pegar um livro na bolsa ou continuar aquele PDF interessante que lia no celular.

Ensaio um assunto qualquer. Alguma bobagem sobre o voo. Quero saber quem é aquela criatura cuja cabeleira já demonstra a avançada idade, mas que possui- talvez - uma cabeça libertária.

Logo descubro. Trabalha com vinhos. Viaja por aí experimentando, degustando, dando pareceres técnicos-enólogos. Me pergunta se estou de férias, digo que sim. Me diz que vai trabalhar, mas que seu trabalho é ótimo, que adora, que tomar vinho e viajar é ótimo. Conta também que está de folga, que vai ao mercado central comer aquela comida deliciosa e que amanhã já é dia de trabalhar. Que chato, pensei eu, realmente chato.

E ela seguiu para aproveitar sua folga enquanto a labuta árdua não chega. Fiquei com dó.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Carta para o futuro

Hoje é primeiro de janeiro de 2015. Escrevo de São Thomé das Letras. Sempre ouvi falar nessa cidade mineira como destino dos místicos. Enquanto pensava no roteiro de Ano Novo, várias cidades surgiram. Quando vi a demora para a data agendada para tirar o do passaporte e que provavelmente teria que abortar os planos de enfim conhecer Paris e visitar Mayte, Minas surgiu. Ibitipoca ou São Thomé entraram na questão. Amigos agregaram os amigos, decidimos tudo e cá estamos.

O misticismo tomou conta da vibe. Estamos todos aqui dando a devida importância ao ritual de Ano Novo, renovação de desejos, expectativas, sonhos. Repensando as posturas, o modo de viver, de se posicionar, de ter coragem para sermos quem somos e seguirmos adiante.

Fizemos nossa lista de muitas resoluções. Queremos coisas possíveis. Simples. Mudanças de hábito, amor tranquilo com sabor de fruta mordida com a condição de quem venha acompanhado de reciprocidade (ensinamento do Dani, pois não adianta pedir nada que não seja recíproco), mais batom, corte de cabelo ousado, voltar a estudar, manter o gasto de energia fazendo exercício, pedalar e viajar mais, manter os bons amigos, conhecer novos deles, não viver no piloto automático e elaborar, elaborar, elaborar pra ver se dou conta. E continuar exercitando a tentativa da leveza.

Lista de resoluções parecem uma bobagem quando se dão só no Ano Novo cronológico. Precisamos de réveillons periódicos, cada um no seu tempo. Sou muito a favor. Mas é bom ter no entorno a energia de renovação. De crença em algo melhor. As expectativas não precisam ser enormes, mas que o desejo sempre exista para nos mover.

Hoje, dia 31 de dezembro de 2015 quero estar relendo esse texto e vendo o que disso tudo foi possível se concretizar. Espero que eu tenha tido força e tenacidade para realizar. Sobretudo que eu tenha tido tranquilidade sem apatia, movimento sem correria e que tenha desfeito todos esses nós, entendido o processo e vivido ainda melhor.