quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Carta ao pai

Carta ao pai

Pai, sei que a gente se abandonou.
E às vezes parece que este abandono é mais meu do que seu, considerando suas condições físicas de saúde.
Não é algo voluntário.
E sei que talvez neste momento, você deva me achar uma filha relapsa e mal agradecida.
Mas há aqui um bloqueio que não me deixa trazer a nossa relação como era. Você se tornou outro, eu me tornei outra.
E a realidade é que não sei lidar que eu tinha um pai e agora ele é outro.
Nosso afeto não mudou, mas se congelou. Não sabemos mais demonstrá-lo como antigamente.
Em algum lugar do meu inconsciente devo achar que vc me traiu e me abandonou, justificando assim o meu abandono.
Outro dia, pai, visitei um Centro Espírita. Sim, um como aquele que você me levava como era criança. E que na adolescência abandonei porque creditava a ele as suas perturbações mentais. Lembra que nas suas crises de euforia você sempre dizia que estava incorporando meu avô?

O psiquiatra disse que eram alucinações e que é algo muito comum em pacientes bipolares a imaginação de ver/ouvir/incorporar espíritos.

Acreditei sem questioná-lo. A tolice da sociedade nos faz crer sem pestanejar no que dizem os médicos. Hoje, com um pouco mais de desconfiança, já não sei se ele tinha razão. Leio muitas coisas que me fazem acreditar que ele estava equivocado ao decretar sua ciência como verdade universal.

Fui ao Centro porque estava sofrendo. Embora eu tome minhas decisões sem pedir opinião a ninguém, nem sempre acredito piamente nelas. Estava em um dia desses em que a angústia toma conta e você não tem certeza de nada. Nestes momentos de fragilidade, parece que nada bem ninguém pode nos dizer algo que sirva para que acalmemos.

Pois bem. Na palestra, a moça disse algo que me marcou. Que se estamos todos neste mesmo plano, é sinal de que temos as mesmas lições para aprender. Portanto, é tolice achar que um humano é mais evoluído que o outro. Se fôssemos, estaríamos em planos astrais superiores. E que por isso, deveríamos nos perdoar.

Perdão é uma palavra a qual nunca me agradou, porque vem carregada de cristianismo e opressão. O perdão reforça que existe o pecado. E o pecado é a maior forma de opressão que a sociedade vive. A idéia de pecado gera tanta intolerância que dói proferir essas duas palavrinhas tão atreladas.

Mas como bom estudioso do espiritismo, pai, você deve ter escutado uma palavra mais bonita e mais condizente com o que estou tentando dizer: compaixão.

Compaixão reflete este sentimento que devemos ter com o outro e com nós mesmos. E é o que eu gostaria de demonstrar ter por você. Mas a minha incapacidade de evoluir - neste sentido - fica muito clara quando tento resolver isto.

Me sinto inútil e incapaz por não conseguir resolver isto. Sabe. Hoje li uma coisa. Uma coisa que mexeu muito. E foi por isso que resolvi te escrever.

Li que uma criança de 6 anos estava prestes a perder seu cachorro de estimação - que já tinha o dobro de sua idade. O veterinário não pôde fazer nada pelo cão e teve de sacrificá-lo. Como você fez com a Veluda - nossa cachorra - e depois se sentiu tão mal, lembra?

Inconformado com o sofrimento daquela família ali velando o cão, o veterinário indagou porque estes animais vivem tão pouco. Ao passo que a criança - conformada com a situação - disse que os cães já nascem sabendo tudo aquilo que nós humanos viemos aqui na missão de aprender. Amam, têm compaixão, ajudam a quem amam.

E nós, na nossa imperfeição, ainda estamos engatinhando em tudo isso. Por mais piegas que possa parecer, a mensagem do cachorrinho me fez te escrever. Porque sei o quanto temos essa dificuldade. Já fiz inúmeras sessões de análise, com profissionais distintos, para me livrar da culpa cristã. Talvez neste movimento de melhorar, tenha me afastado ainda mais. Mas acredito que além de me livrar da culpa, precisava acertar estes pontos.

De certa forma, retornar ao Centro é retornar a você. Sabe, vi um casal com uma filha que regulava a minha idade. E imaginei que se todos os últimos acontecimentos - a sua doença, a separação da minha mãe, o retorno ao primeiro casamento - não tivessem sucedido, talvez poderíamos estar nós três ali, protagonizando aquela cena.

Mas não foi. Mudaram-se todos os propósitos, as missões, e desde então me sinto perdida, sem saber que parte do mundo habitar. E talvez seja este o meu carma, a minha missão. Sinto que o tempo está passando cada vez mais rápido e a cada dia se encurta a possibilidade de virar o jogo e acertarmos os ponteiros. Só gostaria de dizer que mesmo com as minhas dificuldades, minha compaixão não se foi por completo. E que mesmo ao dizer para mim todos os dias que nós dois temos responsabilidade por isso, sei que estou com condições mais adequadas de resolver isto do que você. Espero dar conta disso e resolver em breve.
Te amo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Minha maior alegria

Décimo dia de férias e a minha maior alegria é: não saber quem é Jéssica.
Será um novo meme? Um viral? Um vídeo no Youtube que bombou?
Sei lá.
Nem quero saber.
O bom das férias é ficar alheio a toda bobajada proferida por aí.
O silêncio é a melhor companhia para todas as horas.