quarta-feira, 9 de março de 2016

Porque precisamos de profissionais para planejar conteúdo e gerenciar crises?

Você já deve ter reparado que algumas marcas optam por fazer sua divulgação e sua interação com seu público de forma caseira. A lanchonete nova que abriu e divulga seus produtos, a academia do bairro e por aí vai. Muitos alegam a grana curta para não contratarem um profissional de comunicação. Mas o barato pode sair caro. Quando a intenção do pequeno empresário ultrapassa ter um canal para que o cliente possa encontrá-lo e passa a querer fazer ele próprio a estratégia e a inserção de conteúdo, ele pode vir a ter problemas.

No início de 2015 me matriculei num box de CrossFit em São Paulo, por lá fiquei durante um ano. Encontrei pessoas muito dedicadas à modalidade, profissionais sérios e preocupados com a execução técnica dos exercícios e com responsabilidade com as cargas dos alunos. O ambiente, embora muito mais cordial e menos narcisista do que qualquer academia de musculação, é impregnado de machismo. Tentava ignorar isto, afinal eu estava ali para praticar exercícios e finalmente tinha achado um que me motivava. Encontrei uma boa professora e me aliei a ela para diminuir a irritação com comentários do tipo "dê danoninho sem colher para o seu filho desde cedo porque ele vai saber direitinho como fazer sexo oral".

Depois de um tempo, entrei no grupo do WhatsApp do tal box para receber informações sobre osteopatas, promoções de pasta de amendoim e outras particularidades de quem pratica este esporte. Na sexta-feira, a clássica guerra dos sexos. Homens mandam fotos de mulheres bundudas e peitudas, mulheres mandam um musculoso com barriga de tanquinho. Até aí, sobrevivi.

A rede de boxes mantém no Facebook páginas com informações em cada uma de suas unidades. Em um infeliz post sobre o Dias Internacional das Mulheres, comemorado no dia 8 de março, o grupo fez uma homenagem às frequentadoras dos boxes. Em uma ideia de mau gosto de usar duplo sentido ou - quem sabe e como se defendem os sócios da rede - por uma infeliz coincidência, planejaram o treino apenas com Snatchs e disseram que o treino tinha sido desenhado especialmente para as mulheres. Snatch, dentro do CrossFit, quer dizer arranco. Na gíria popular americana, significa o órgão genital da mulher.

Pois bem, após uma mensagem de Feliz Dias das Mulheres no tal grupo do WhatsApp, uma frequentadora de uma das unidades reclamou e pontuou o machismo - proposital ou inconsciente - inserido naquele post na página do Facebook. Contestou e criticou a necessidade de nós mulheres nos posicionarmos e também de quem fez o post refletir sobre isso. Ela sinalizou que o ambiente por si já é machista e reproduz o que a sociedade faz lá fora do box. Algo que deveria ser minimamente ouvido.

Quem fez o anúncio foi um dos sócios da rede, que tem alguma outra profissão além de ser sócio e praticante do esporte. Ele pode entender muito de negócios e também de CrossFit, mas pareceu não entender nada de planejamento e de gerenciamento de crise.

No mesmo grupo do WhatsApp ele deu a entender que não tinha feito piada machista e que Snatch deveria ser lido como arranco. E que se a sociedade é machista e se eles reproduzem isso ou não, ele não se importa, nem vai opinar. Se eximiu da responsabilidade de assumir o erro e ainda jogou a bola para a aluna - que antes de mais nada é uma mulher, o público a quem a sua mensagem se destinava e cliente dele - dizendo que devemos levar o mundo menos a sério.

Ora, além de cometer o erro, diz que o público/cliente é que está errada em se sentir ofendida. Não bastasse isso, um outro sócio veio defender o amigo - no mesmo grupo de WhatsApp - com a justificativa de que "o mundo é da forma que queremos ver". Além disso, ele disse que o sócio responsável pelo post fica horas discutindo com a mulher sobre o que fazer com os posts. E para colocar a cereja no bolo, insinuou que a aluna deveria pedir desculpas ao autor do erro.

Ouvimos diariamente dos professores desta rede de boxes o quanto é importante ter certificação para dar aulas de CrossFit. O que é, no mínimo, responsável. Ouvimos lá dentro críticas a blogueiras e instagrammers que, sem certificação adequada, dão aulas e passam exercícios em suas redes sociais. Obviamente, algo leviano e irresponsável.

Mas não seriam eles levianos e irresponsáveis quando tratam com descaso o que é hoje a sua maior ferramenta de comunicação com os alunos/clientes de suas unidades? Ora, se aquele é o canal para chegar até o aluno e por isso deseja-se agradá-lo, homenageá-lo, mantê-lo próximo, nada melhor do que contratar um profissional gabaritado para tomar conta disto.

Se isto tivesse acontecido, provavelmente um profissional de comunicação teria barrado a ideia do duplo sentido. Ou, uma vez que a homenagem torta tenha sido "sem querer" ou inconsciente, mas apontada pelo público, deveria haver uma retratação por parte da marca. E não uma insinuação de que a aluna deveria se desculpar por ter se sentido ofendida por uma ideia de girico.
 O caso Quitandinha aconteceu faz pouquíssimo tempo e outras pessoas já escreveram brilhantemente sobre ele. Mas parece que ninguém aprendeu absolutamente nada.
 

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