quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Projeto Genoma [parte I]

Há coisas que são irreparáveis. Como aquela aquela amizade com uma rachadura que não volta a ser a mesma. Na mesma toada, a genética.

Os  azões azinhos eram interessantes, mas não o suficiente para eu querer compreendê-los às 7h da manhã daquelas aulas de Biologia do Ensino Médio. Há certas coisas que negamos porque assim preferimos. Outras porque somos incapazes de lidar. Talvez eu fosse incapaz de lidar com a genética naquele tempo. Justamente pela negação.

Esmeralda, minha avó materna, teve 3 irmãs - agora todas mortas - e 4 irmãos; dois deles ainda vivem. Assim simétrico mesmo: (para alegria de virginianos e outros metódicos no geral) 4 mulheres e 4 homens.

e de Esmeralda, a bisa Edy deixou de herança não só o nome para minha mãe, mas uma sentença em forma de genes para 3 bisnetos: um diagnóstico de câncer. 

Apita o celular. 342 mensagens da noite de sexta para sábado. Em grupos do aplicativo, pessoas falam de trabalho, outras apenas comentam qualquer bobagem. Tenho muito sono, não leio nada. Bato o olho numa mensagem solitária da minha mãe: "perdemos nossa Aline (acompanhado de um emoji)".

Aline, Rodrigo e Diego. Todos netos de filhas mulheres da bisa Edy. Antes de soltar um "que gene machista", lembro vagamente das influências dos cromossomos X e Y das aulas de Marco. Nunca fui aplicada em ciências biológicas, mas vá, memória ainda tenho, pensei. E o Temer ainda quer cortar disciplinas, resmunguei antes de apurar. Sim, bisa Edy também teve câncer, segundo dados revelados pela minha mãe mesmo.

Custo a acreditar. Não via Aline fazia tempo. Tinha notícias através da minha mãe, andava e virava ela estava às turras com a quimioterapia, mas tudo parecia controlado. Há 7 anos convivíamos com o câncer dela, não parecia que ela iria assim.

Mas pera lá, que merda é essa? Começo a perceber a conexão. Três primos, da mesma geração, netos de 3 irmãs. Minha boca ficou seca. Compreendi genética em 3 segundos. E danei a tentar me lembrar daqueles cálculos de probabilidade. Azão azão vezes azinho azinho. Ou seria azinho azão vezes azão azinho. Puta merda, não me lembro. Qual seria a probabilidade de um neto da minha avó reproduzir o gene? 75%? 100%?

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