Os azões azinhos eram interessantes, mas não o suficiente para eu querer
compreendê-los às 7h da manhã daquelas aulas de Biologia do Ensino
Médio. Há certas coisas que negamos porque assim preferimos. Outras
porque somos incapazes de lidar. Talvez eu fosse incapaz de lidar com a
genética naquele tempo. Justamente pela negação.
Esmeralda, minha avó materna, teve 3 irmãs - agora todas mortas - e 4 irmãos; dois deles ainda vivem. Assim simétrico mesmo: (para alegria de virginianos e outros metódicos no geral) 4 mulheres e 4 homens.
Mãe de Esmeralda, a bisa Edy deixou de herança não só o nome para minha mãe, mas uma sentença em forma de genes para 3 bisnetos: um diagnóstico de câncer.
Apita
o celular. 342 mensagens da noite de sexta para sábado. Em grupos do
aplicativo, pessoas falam de trabalho, outras apenas comentam qualquer
bobagem. Tenho muito sono, não leio nada. Bato o olho numa mensagem
solitária da minha mãe: "perdemos nossa Aline (acompanhado de um emoji)".
Aline, Rodrigo e Diego.
Todos netos de filhas mulheres da bisa Edy. Antes de soltar um "que
gene machista", lembro vagamente das influências dos cromossomos X e Y das aulas de Marco. Nunca fui aplicada em ciências biológicas, mas vá, memória ainda tenho, pensei. E
o Temer ainda quer cortar disciplinas, resmunguei antes de apurar.
Sim, bisa Edy também teve câncer, segundo dados revelados pela minha mãe mesmo.
Custo a acreditar. Não via Aline fazia tempo. Tinha notícias através da minha mãe, andava e
virava ela estava às turras com a quimioterapia, mas tudo parecia
controlado. Há 7 anos convivíamos com o câncer dela, não
parecia que ela iria assim.
Mas pera lá, que merda é
essa? Começo a perceber a conexão. Três primos, da mesma geração, netos
de 3 irmãs. Minha boca ficou seca. Compreendi genética em 3 segundos. E
danei a tentar me lembrar daqueles cálculos de probabilidade. Azão azão
vezes azinho azinho. Ou seria azinho azão vezes azão azinho. Puta
merda, não me lembro. Qual seria a probabilidade de um neto da minha avó reproduzir o gene? 75%? 100%?
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