terça-feira, 4 de outubro de 2016

Projeto Genoma [parte II]

Respiro fundo com a notícia. Não esperava, mas não me choquei. Não bati a cabeça na parede como reagi quando Fernanda se foi. Também não gritei incrédula e inconformada. Processei a informação e contei para minha namorada, que acordou comigo falando em voz alta. Reportei a ela apenas, como faço no cotidiano do meu ofício. Sem drama, sem desespero. E isso me balançou.

Aline descobriu o câncer aos 20, durante a faculdade. Cursava Arquitetura na UFRJ. E por mais clichê que seja dizer que ela estava no auge da sua juventude, de fato estava. Tinha deixado uma vida inteira em Araruama para ampliar os horizontes no Rio.

Abri o Facebook. Vi lindas homenagens e então chorei. Finalmente. Foi um choro contido, mas o suficiente para eu relaxar e entender que meu quinhão de humanidade ainda me resta. Mesmo que o mundo cão que leio diariamente no meu trabalho me diga que não. 

Eu e Aline tínhamos uma diferença de 5 meses de idade. Nunca fomos próximas, nem quando me mudei para a cidade onde ela nasceu e morava. O que tínhamos em comum: a afinidade com Danilo. Afinidades diferentes, obviamente. E talvez essa disputa nos distanciasse mais do aproximasse. No fundo, queríamos afirmar a proximidade com ele. O primo mais velho que sempre causava com a sua excentricidade. O cara que usava saias e pintava as unhas de preto na tradicional família católica araruamense. Eles netos da mesma avó. Um laço forte. E eu que gostava de relacionar a minha excentricidade à dele.

O tratamento do câncer foi sofrido. Sete anos de idas e vindas ao hospital. Uma cirurgia que prometeu uma vida saudável. Retorno à vida cotidiana, faculdade, novo namorado. Câncer volta. Remédios foram ineficazes, descobriu-se. Nova cirurgia, outra promessa. Novo tratamento. Angústia, raiva, fé, desistência, artigos no Google, depoimentos encorajadores, depoimentos frustrantes. Emocional em frangalhos. 

Volto para o meu questionamento. Lembro de Diego. Lembro de Rodrigo. Passa uma semana e minha mãe vem me visitar. Rodrigo está mal novamente. Deprimido por ter de usar uma bolsa excretora. Minha mãe narra as novidades sombrias pelas quais ele passará e na minha cabeça azoes azinhos se multiplicam e martelam. Qual é a probabilidade? Somos 6 meninas e um menino. Os netos da vó Esmeralda. Teremos um de nós o quinhão da genética da bisa Edy?

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